Sophia Morais leva Caruaru à elite da ginástica artística nacional

PUBLICIDADE

Em uma cidade conhecida pela força do forró, pela tradição cultural e pelo talento em diversas áreas, uma jovem caruaruense vem mostrando que os sonhos podem ultrapassar barreiras e abrir caminhos inéditos. Aos 12 anos, Sophia Morais se destaca na ginástica artística, um esporte ainda pouco explorado em Caruaru, mas que, através da sua dedicação e talento, ganha visibilidade e inspira outras crianças e adolescentes. Com disciplina, coragem e amor pelo que faz, ela conquistou seu espaço e vai representar Pernambuco em competições nacionais, levando consigo o orgulho da família e o nome de sua cidade que começa a descobrir o potencial de formar grandes atletas nesse esporte desafiador.

Desde cedo, a jovem atleta mostrou que a determinação e a curiosidade podem transformar brincadeiras em grandes conquistas. A rotina de cambalhotas na varanda de casa virou ensaio para algo muito maior. Antes da ginástica, experimentou a natação e o karatê, mas foi aos 8 anos que encontrou o esporte que despertou sua verdadeira paixão. “Eu acho que o que mais me incentivou foram as Olimpíadas de Tóquio. Ver a Rebeca Andrade ganhar medalhas me fez querer ser uma ginasta”, relembra, com um brilho nos olhos de quem sonha em seguir passos semelhantes.

O caminho, no entanto, não foi simples. Lesões em tornozelos, pés e joelhos chegaram a abalar a confiança, principalmente pela falta de equipamentos adequados em Caruaru. O medo de novos movimentos em condições desfavoráveis quase a fez desistir. Mas a coragem falou mais alto. “É muito lindo ver como ela leva a sério seu esporte, mantendo a disciplina e compromisso ainda tão nova. Aquela menina que começou com cambalhotas em casa hoje mostra que sabe onde quer chegar”, conta a mãe, Jô Leite, orgulhosa.
A rotina atual impressiona. Sophia treina intensamente de segunda a quarta-feira em Caruaru, sob a orientação do treinador Tito Maximiliano. Já nas quintas e sextas, segue para Recife, onde integra a seleção pernambucana e treina com a técnica Rachel Mulatinho.

O esforço físico é acompanhado de cuidado emocional. Para lidar com a pressão e ansiedade das competições, ela faz terapia. “A terapia me ajuda a controlar o medo e manter o foco nos treinos e competições”, explica, mostrando maturidade impressionante para a idade.

Tito, treinador responsável por lapidar seu talento, descreve a jovem com entusiasmo: “A Sophia é uma menina iluminada, aquela pessoa que todo treinador gostaria de encontrar. Seu talento é natural. Primeiro tive de entender seu mundo e como arrancar dela o potencial existente, porque não basta identificar e não saber produzir. Ela é inteligente, objetiva e dedicada. Trabalhando apenas uma pequena fração do seu potencial já é possível ver o quanto pode realizar e quão longe pode chegar”,

Na avaliação técnica, o treinador também destaca pontos que a diferenciam: “A ginástica é um mix de aspectos físicos, emocionais e motores. Esses fatores estão nela. Sua concentração, sua força física, muito acima da média para a idade, e sua consciência corporal fazem dela uma atleta com grande futuro. No emocional, às vezes a teimosia aparece, mas acreditar no que é ensinado é um diferencial que ela tem.”
O trabalho em conjunto com a técnica Rachel, em Recife, também foi decisivo para o crescimento da jovem atleta. “Nos últimos dois anos, treinamos elementos específicos pensando em competições importantes. Nunca ficamos presos ao básico. Para o Brasileiro Escolar, por exemplo, listei as séries das concorrentes e introduzimos elementos novos nos treinos. Isso foi fundamental para sua classificação. Agora, seguimos o cronograma da Confederação Brasileira de Ginástica em preparação para o Torneio Nacional.”

Treinar uma atleta tão jovem em alto rendimento traz desafios únicos. “A ginástica artística é um esporte precoce, tanto na iniciação quanto na aposentadoria. O maior desafio é ensinar desde cedo a importância da disciplina e da dedicação. No alto rendimento a exigência é máxima e a busca pela perfeição ultrapassa todas as barreiras possíveis”, explica Tito.

Para a família, acompanhar o desenvolvimento da ginasta é motivo de orgulho e emoção. “Sophia estuda pela manhã e treina quatro horas por dia. Ela é disciplinada, cuida da alimentação e mantém o compromisso com o esporte e os estudos mesmo nos fins de semana”, relata a mãe. Apesar dos custos altos com competições e equipamentos, a família segue dando todo suporte necessário, contando com apoio do Estado apenas para o JEBs.

O momento mais marcante até agora foi nos Jogos Estaduais (JEPs), sua primeira competição oficial em nível estadual. O frio na barriga deu lugar à confiança, e os resultados vieram: duas medalhas e a convocação para a Seleção Pernambucana de Ginástica Artística. A conquista foi simbólica, pois mostrava que aquela menina de Caruaru, com treinos limitados, era capaz de alcançar grandes feitos.

O sonho agora é ainda maior. Sophia deseja ser medalhista no Torneio Nacional, previsto para novembro, e no futuro se formar em Educação Física para ter sua própria academia. “Quando entro na quadra, sinto que posso ir além do que imagino. Cada movimento é um aprendizado e me deixa mais confiante para as competições”, afirma, já servindo de inspiração para outras crianças que começam a enxergar a ginástica como possibilidade.

Apesar das dificuldades financeiras, os pais mantêm a confiança no futuro: “Queremos que ela alcance seus objetivos, não só como atleta, mas também como pessoa. Sabemos que os custos são altos, mas cada esforço vale a pena quando vemos a felicidade dela”.

A história de Sophia Morais vai além das medalhas. É a prova de que talento, disciplina e persistência podem abrir caminhos até nos cenários mais improváveis. Ela não representa apenas Pernambuco em competições nacionais. Representa também a força de uma geração que aprende, desde cedo, que o esporte pode transformar vidas e que sonhar grande é o primeiro passo para transformar realidade em conquista.

PUBLICIDADE