Sem divisão em 2019, Mirassol/SP sobe à Série A após dois títulos e três acessos

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O que você faria com 8 milhões de reais? O Mirassol usou boa parte do valor da venda do atacante Luiz Araújo, R$ 5,4 milhões, para construir o seu CT e mudar completamente sua história. O quase centenário clube do interior paulista renasceu nesta década e atingiu um novo patamar. Em apenas cinco anos, o Leão deixou de ser um time sem divisão nacional e chegou à Série A do Brasileiro pela primeira vez.

Fundado em 1925, o clube mudou de prateleira no futebol apenas no século XXI. A primeira vez que o time disputou a elite estadual foi em 2008. Ficou na primeira divisão até 2013, quando foi rebaixado, e voltou à Série A1 em 2017 para nunca mais sair.

O desejo da gestão de construir um centro de treinamento foi impulsionado pela venda do atacante Luiz Araújo, em 2018, do São Paulo para o Lille, da França. Clube formador do jogador, o Mirassol tinha 30% dos direitos econômicos dele e faturou quase R$ 8 milhões com o negócio.

Foto da matéria: Pedro Zacchi/Ag. Paulistão

A nível nacional, o Leão disputou o Campeonato Brasileiro pela primeira vez em 1995, mas teve campanha pífia na Série C com cinco derrotas, um empate e nenhuma vitória. Jogou a Série D em 2009, 2011, 2012, 2018, mas só conseguiu sucesso em 2020, quando foi campeão.

Depois de duas temporadas na Série C, novamente coroou o acesso com um título, em 2022. O clube se tornou um dos 22 com taças em mais de uma divisão nacional.

Confira como foi a trajetória do Mirassol rumo à elite do Campeonato Brasileiro.

Nova identidade – 2008 a 2013

A história recente do Mirassol começa a ser contada a partir de 2008, quando o clube fez sua estreia no Campeonato Paulista e, então, passou a ser devidamente reconhecido no cenário estadual. E, logo de cara, o Leão não fez feio, com um honesto oitavo lugar entre 20 clubes.

A equipe manteve a regularidade nas edições seguintes – com destaque para uma classificação às quartas de final, em 2011 – mas foi em 2013 que o time, aparentemente em fase de ascensão, viveu episódios contraditórios que interromperam momentaneamente a escalada.

Apesar da notória goleada por 6 a 2 contra o Palmeiras, o Mirassol não fez boa campanha e terminou na 17ª colocação, sendo rebaixado e colocando fim a uma sequência de seis temporadas na elite.

Recomeço – 2014 a 2016

O rebaixamento foi uma espécie de “volta à estaca zero” para o Mirassol, que disputaria a Série A2 do Paulista nas próximas três temporadas. Em 2014, o Leão fez uma boa campanha e flertou com o acesso, que não veio no critério de desempate (número de vitórias).

Em 2015, o clube (acredite se quiser) chegou mais perto ainda, mas novamente parou na trave. Desta vez, o Mirassol igualou pontuação e número de vitórias do quarto colocado (à época, a A2 era disputada no sistema de pontos corridos e os quatro primeiros promovidos ao Paulistão), mas terminou fora do G-4 pelo saldo de gols.

Já no ano seguinte, não teve zebra. Mesmo com a mudança no regulamento e a redução no número de promovidos a apenas dois, o Leão terminou a primeira fase em terceiro, passou por União Barbarense e Batatais nas quartas e semifinais, respectivamente e, mesmo com a perda do título para o Santo André na decisão, carimbou o seu retorno ao Paulistão.

Volta definitiva – 2017 – atualmente

O retorno do Mirassol à primeira divisão estadual foi definitivo. Desde 2017, quando voltou a disputar o primeiro nível regional, o clube nunca mais caiu. A primeira classificação às quartas de final demorou um pouco, é verdade, mas veio em grande estilo: em 2020, o Leão terminou em segundo lugar em uma chave que contava com São Paulo, Inter de Limeira e Ituano e foi além, eliminando o Tricolor em pleno Morumbi.

Mirassol vence o São Paulo e avança para a semifinal do Paulistão

A surpreendente campanha terminou na semifinal, com a derrota para o Corinthians, mas na temporada seguinte, o Leão voltaria a mostrar as garras, terminando na primeira colocação do seu grupo (deixando para trás o gigante Santos), eliminando o Guarani nas quartas e parando diante do São Paulo na semi.

Depois disso, o time não voltou a avançar de fase no estadual, mas também nunca mais teve uma campanha “ameaçadora” na competição. Entre momentos de destaque e outros nem tão brilhantes, o foco do clube estava voltado para outro cenário.

Enfim, reconhecido nacionalmente – 2020

Até 2020, o Mirassol havia disputado a Série D em quatro oportunidades. Com exceção feita à edição de 2011, quando chegou às quartas de final, o clube teve pouquíssimo destaque em suas participações, o que só viria a mudar no pandêmico ano de 2020.

O clube encontrou no técnico Eduardo Baptista (ex-Palmeiras e Fluminense, hoje no rival Novorizontino) a química perfeita para uma campanha sólida, que levou o clube não apenas a conquistar o tão sonhado à terceira divisão nacional, como também ao título da Série D – o primeiro do Leão fora das fronteiras do estado de São Paulo.

Este, no entanto, não seria o último.

Susto, novo acesso e consolidação – 2021 a 2023

A chegada do Mirassol à Série C não foi das mais tranquilas. Em seu primeiro ano na terceira divisão, o Leão fez uma campanha bastante irregular e terminou apenas uma posição – e três pontos – acima da zona de rebaixamento.

Já em 2022, tudo mudou. Desta vez sob o comando de um velho conhecido – Ricardo Catalá -, o Leão se mostrou um sério candidato ao acesso desde o início e fez jus ao status. Liderado pelo veterano Camilo, o clube sobrou desde o início, liderou a primeira fase e subiu de divisão mais uma vez com a melhor campanha geral. De quebra, ainda faturou o título da Série C ao bater o ABC na final.

A estreia na Série B, ao invés do nível abaixo, foi surpreendentemente positiva. Desta vez comandado por Mozart, o Mirassol foi consistente do início ao fim, sem sofrer sustos, e ainda bateu na trave na briga para chegar à elite nacional. O clube foi o sexto colocado, ficando apenas duas posições abaixo do G-4 e um ponto atrás do último classificado à mais alta divisão do futebol brasileiro.

No topo – 2024

Se em 2023, o Mirassol chegou perto, mas viu a vaga na elite escapar pelos dedos, neste ano a sequência do trabalhou surtiu o efeito esperado. O Leão mais uma vez foi sólido ao longo de toda a competição, figurando no G-4 na maior parte da temporada e sacramentando o acesso com uma rodada de antecedência.

A equipe teve como principal marca a força defensiva, destacando-se por sofrer pouquíssimos gols e ter um dos elencos mais disciplinados. O clube também fez valer o fator casa, transformando o seu estádio, o Maião, em um verdadeiro “alçapão” para os adversários.

Com o acesso, o Mirassol chega ao ano do seu centenário (2025) no patamar mais alto de sua história. E com muito mais do que o aniversário de 100 anos a comemorar.

Materia do Globo Esporte 

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