O volante Tiago, de 31 anos tem passagem por diversos clubes de Santa Catarina, São Paulo, Goiás, Amazonas e Roraima. Contudo, além de jogador, Tiago também é personal e abriu recentemente sua academia.
Durante seu tempo viajando o Brasil a trabalho, o volante decidiu cursar Educação Física. O espaço que inaugurou serve como fonte derenda segura, já que o mundo do futebol é cercado de imprevisibilidade.
— Consegui iniciar a faculdade e hoje também sou personal. Abri o espaço recentemente e hoje estou conciliando o futebol com a academia. Então, quando não consigo calendário para jogar, me mantenho com essa outra fonte de renda — relatou Tiago.
Nascido do Amazonas, o jogador e personal deixou o estado para jogar em Roraima. O estadual terá início em março e deve chegar ao fim na metade do ano. Tiago já atua a mais de 10 anos e contou que já acostumou com a instabilidade da profissão.
— Tem período que é realmente muito difícil. Às vezes, o futebol dá uma parada, não é o ano todo, então temos que buscar outra remuneração. Acontece com frequência com a maioria, de chegar ao fim o campeonato estadual e você ficar desempregado, esperando aparecer alguma coisa.
Apesar da comemoração dos campeões dos estaduais no último fim de semana, a grande maioria dos jogadores do país não vive a mesma festa. De acordo com a CBF, no último ano o Brasil teve 863 clubes profissionais registrados e em atividade. Logo, 86% dos atletas ficaram limitados apenas aos torneios estaduais, de curta duração.
— A grande maioria tem um mercado de trabalho de quatro meses. Depois fica desempregado. Poucos jogam muito e muitos jogam pouco – contou Alfredo Sampaio, presidente da Federação Nacional dos Atletas Profissionais de Futebol (Fenapaf)
— O atleta que consegue jogar um estadual e depois uma vaga na Série D é quase que uma bênção para ele, porque, se não estiver nesse pequeno mercado de clubes que vai jogar a quarta divisão, o ano dele acabou. Um ano de quatro meses — completou o presidente.
Outro nome que vive nesta “vida dupla” é o goleiro Gustavo, do Alagoas. O atleta de 30 anos tem passagem pela base de grandes clubes brasileiros, como Sport e Grêmio.
Gustavo chegou a disputar o último Campeonato Alagoano pelo Coruripe. Contudo, com a ausência de torneios, o jogador achou uma alternativa dentro do próprio clube quando recebeu um convite para trabalhar na preparação de goleiros do sub-20.
— Neste cenário é importante ter contatos, amizade, isso é o que nos emprega. É uma competição difícil, o famoso DVD com os melhores momentos ajuda, utilizamos muito as redes sociais também. É dessa forma que tentamos nos manter empregados no futebol, mas nem sempre é possível – contou Gustavo.
Durante este tempo, foi chamado para jogar pelo Baré, de Roraima, e depois voltou a atuar como preparador. Porém, nem sempre os bons contatos lhe garantiram oportunidades no mundo do futebol.
— Também trabalhei como motorista. O presidente (do Coruripe) Franciney Joaquim também é vereador na cidade, e ele me convidou para ficar como motorista na prefeitura. São alternativas que a gente busca para lidar com essa realidade — explicou o goleiro.
Já Arthur Machado, encontrou no bar da família uma fonte de renda além do futebol. O volante já passou pela base do Palmeiras e chegou a treinar junto ao time principal. Além disto, acumula passagens por clubes de Goiás, Alagoas, Santa Catarina e do Rio Grande do Sul.
— Meu pai tem um bar, então trabalhava na cozinha quando estava desempregado no futebol. Também tenho uma loja de roupa feminina com minha mulher, conseguia ajudar como caixa e também realizando entregas – relatou Arthur.